PRÉ PROJETO DE MESTRADO
Este é o meu Pré-Projeto, e com o qual passei na primeira fase para o mestrado 2022/UFJF em Filosofia... Porém, por algo inexplicável não transformei este em um "Projeto de Dissertação"...
Só gostaria de esclarecer que, fiz minha prova de línguas em Francês... Recebi dois textos em outros idiomas, o que minou meu tempo pelas traduções e não consegui concluir a segunda etapa...
0UNIVERSIDADE FEDERAL DE JUIZ DE FORA
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM FILOSOFIA
Uma análise literária do discurso Pré-Socrático;
o viés ontológico intrínseco à cosmologia, uma perspectiva em Hegel.
Resumo
O objetivo deste pré-projeto de pesquisa é analisar a questão ontológica no período pré-
socrático, no qual se investigava a natureza em busca de uma causa primeira para a existência;
subjacente à cosmologia pré-socrática estava de forma sutil questões metafísicas e ontológicas;
fazendo-se uma análise literária deste discurso no pensamento moderno onde em Hegel
encontramos subsídios para esta proposta.
Palavras chaves: Metafísica, ontologia, espírito, Deus.
Pré-projeto de Pesquisa elaborado para o processo
de seleção de Mestrado em Filosofia, da
Universidade Federal de Juiz de Fora, na linha de:
Metafísica: Ontologia Geral.
Juiz de Fora - MG
2021
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1. DELIMITAÇÃO DO TEMA
Este pré-projeto de pesquisa procurando atender as linhas sugeridas para o mestrado em
filosofia da UFJF, tem como proposta uma análise literária do discurso cosmológico no período
Pré-Socrático, séculos VII/VI - V a. C., sob uma perspectiva colocada por Hegel, corroborada por
Nietzsche que fazem críticas àqueles pensadores e nelas tecem comentários sobre questões
metafísicas e ontológicas, temos como base a obra “Os Pré-Socráticos”, a qual traz as pesquisas
feitas por Hermann Diels, considerado o grande pesquisador da Filosofia Antiga dedicando-se em
profundidade ao estudo e pesquisa doxográfica, organizando e classificando todo o material
doxográfico, e onde estes pensadores fazem tais críticas. Logo nosso tema está delimitado em um
período específico da filosofia, em uma obra que nos serve de base para o início das pesquisas e que
faz parte da bibliografia deste pré-projeto; Hegel é um pensador crítico deste período, no qual
pretendemos sustentar nossas proposições fazendo uma análise literária sobre suas colocações, além
de Nietzsche que também faz suas críticas àqueles pensadores e a tal período e que pode corroborar
ao que pretendemos com este trabalho.
Portanto, em ralação à Filosofia Antiga, especificamente ao período Pré-Socrático,
observamos que, sendo ela voltada para questões cosmológicas, tratando-se especificamente da
“physis”- natureza – verificamos que a questão do “ser” está subjacente ao pensamento de tais
filósofos, chamados mui apropriadamente por Aristóteles, filósofo clássico, de “physiólogos” -
estudiosos da natureza – pelo fato de investigarem questões voltadas à existência e a realidade das
coisas, ou seja, o existir e sua causa primeira na própria natureza.
No que tange a metafísica e também a ontologia, como sugere o edital nº01/2021 PPG em
Filosofia em seu anexo I, p. 10, item I Metafísica, “a filosofia tematiza classicamente a questões da
natureza, da ‘realidade’, e mais especificamente às questões do ser, do real ou de seu sentido”, a
proposta deste pré-projeto se enquadra dentro dessa linha de pesquisa e estudo, em um período
pouco explorado neste campo, ou seja, a metafísica e a ontologia respectivamente.
Dessa forma uma releitura desse período, sendo analisado sob uma ótica crítica colocada por
Hegel (1770-1831), filósofo localizado em um período de transição do pensamento moderno para o
pensamento contemporâneo, além de ser o mais importante filósofo alemão do século XIX segundo
Marcondes (2010, p. 221), torna-se viável. É desafiadora nossa proposta, levando em conta o lapso
de tempo em relação ao período filosófico em questão – Filosofia Antiga, período Pré-Socrático,
séc. VII/VI – V a. C. -, mas que se torna possível tendo em Hegel – séc. XIX – crítico ao período
em questão, tendo como subsídio as pesquisas de Hermann Diels (1848-1922) e Walther Kranz
(1884-1960), séc. XX; que nos aproxima daqueles filósofos antigos, rompendo com o lapso de
tempo, abrindo caminho para a pesquisa e análise literária na modernidade conforme nossa
proposta.
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2. JUSTIFICATIVA
Nossa justificativa é feita em função de uma releitura da Filosofia Pré-Socrática observando
apontamentos feitos por Hegel, outros feitos por Nietzsche que mesmo sendo ela voltada para
questões cosmológicas, tratando-se especificamente da “physis” – natureza – verifica-se que a
questão do “ser” está subjacente ao pensamento de tais filósofos, o que é observado nas críticas
feitas por estes dois pensadores alemães. Os pré-socráticos se deparam em primeiro lugar com a
negação do mito até então norteadores de tais explicações e respostas especulativas em relação aos
fenômenos naturais; em segundo lugar a questão própria do ser como imanente e como esta
manifestação se daria no mundo fenomênico. Mesmo que possa parecer absurda tal proposta,
podemos verificar que no conteúdo dos discursos existe uma preocupação em desvendar esta
relação, e de como ela se daria na realidade, o que estaria por traz dos “entes” múltiplos e diversos
em toda a natureza, e por mais que não trate de questões ontológicas objetivamente, o caminho para
o estudo e pesquisa de tais questões perpassa pelo caminho cosmológico desenvolvido pelos
filósofos antigos. Iniciando pela Escola de Mileto, Tales (c. de 625/4-546 a.C.) o primeiro filósofo
propõe a água como princípio de todas as coisas Hegel diz,
A proposição de Tales de que a água é o absoluto ou, como diziam, o princípio, é filosófica;
com ela, a Filosofia começa, porque através dela chega à consciência de que o um é a
essência, o verdadeiro, o único que é em si e para si. Começa aqui um distanciar-se daquilo
que é em nossa percepção sensível; um afastar-se deste ente imediato – um recuar diante
dele.1
Observamos então que, Hegel chama a atenção para um distanciamento do campo sensível,
um afastamento da imanência, ou seja, um afastar da realidade atestada pela sensibilidade em busca
ao que subjaz por traz dela, sua essência, e sobre a qual Hegel já observa sendo “um”, neste caso a
água, valendo-se da subjetividade. Anaximandro (c. de 610-547 a.C.) discípulo de Tales apresenta o
“apeíron” (indefinido, indeterminado) como princípio, Simplício comenta sobre este em Física, 24,
13 (DK 12 A 9) que, Anaximandro “observando a transformação recíproca dos quatro elementos,
não achou apropriado fixar nenhum destes como substrato, mas algo diferente, fora estes”, e afirma
que Aristóteles por causa disto o associa à escola de Anaxágoras [...], (1973, p. 21); observando as
características da proposta de Anaximandro – não tem princípio, ilimitado, indestrutível, e não
engendrado – Aristóteles diz,
Por isso, assim dizemos: não tem princípio, mas parece ser princípio das demais coisas e a
todas envolver e a todas governar, como afirmam os que não postulam outras causas além
do ilimitado, como seria Espírito (Anaxágoras) ou Amizade (Empédocles). E é isto que é o
divino, pois é “imortal e imperecível” (Fragmento 3), como dizem Anaximandro e a maior
parte dos físicos.2
1 HEGEL; Trad. Ernildo Stein; in: 1973 p. 15.
2 ARISTÓTELES, Física, III, 4. 203 b 6 (DK 12 A 15); Trad. Wilson Regis; 1973 p. 21.
3
Hegel analisando Anaxímenes (c. de 585-528/5 a.C.), o terceiro integrante da escola de
Mileto, discípulo de Anaximandro, diz que o mesmo retorna a um elemento determinado e propõe o
Ar como princípio e cita Plutarco, o qual aborda a proposição de Anaxímenes, “dele tudo emana e
nele tudo se dissolve” 3, ou seja, o ar como essência das coisas; desta forma Hegel diz que Plutarco
determina a maneira de representação de Anaxímenes, de que do ar (posteriores chamaram-no éter)
tudo se produz e nele se dissolve, mais precisamente assim:
Como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos (...), assim um espírito (...) e o ar mantêm
unido (...) também o mundo inteiro; espírito e ar significam a mesma coisa. Anaxímenes
demonstra muito bem a natureza de seu ser pelo exemplo da alma; ele como que caracteriza
a passagem da filosofia da natureza para a filosofia da consciência ou a renúncia ao modo
objetivo do ser originário. A natureza do ser originário era antes determinada de maneira
estranha, negativa, com relação à consciência; a) tanto sua realidade, a água, ou também ar,
b) enquanto o infinito é um além da consciência. Mas como a alma (assim o ar) é este meio
universal: [...].4
Podemos verificar que a análise de Hegel acima, tem de certa forma um cunho ontológico;
Nietzsche ao comentar Tales, observa que este foi impelido a um “postulado metafísico, uma crença
que tem sua origem em uma intuição mística [...]” 5, e tece o mesmo comentário sobre
Anaximandro, o qual propõe o apeíron (indefinido, ilimitado) como princípio e que este se refugiou
em um “abrigo metafísico”; nos comentários elaborados tanto por Hegel como por Nietzsche sobre
estes filósofos antigos, observamos um viés ontológico, subjacente aos termos “essência” e
“metafísica”, e ainda em Anaxímenes “alma”, completando um jargão voltado ao estudo do ser.
Aos filósofos da Escola de Mileto agrega-se a Escola Jônica, com os pensadores Xenófanes
de Colofon (c. de 580-480 a.C.) e Heráclito de Éfeso (c. 540-470 a.C.); tendo como princípios
originários a Terra e o Fogo, respectivamente. Em relação a filosofia de Xenófanes, Hegel faz a
seguinte assertiva,
No que se refere à sua filosofia, Xenófanes determinou primeiro o ser absoluto como o um:
“O todo é um”. Designou isto também Deus; afirmou que Deus está implantado em todas as
coisas, que ele é supra-sensível, imutável, sem começo, meio e fim, imóvel. Em alguns de
seus versos diz Xenófanes: “Um Deus é o maior entre os deuses e os homens, e não é
comparável aos mortais, nem quanto à figura nem quanto ao espírito”, e: “Ele vê em toda
parte, pensa em toda parte e ouve em qualquer lugar”, palavras a que Diógenes de Laércio
acrescenta: “Tudo é pensamento e razão”.6
E ainda,
Com isto Xenófanes negou a verdade às representações de surgir e desaparecer,
transformações, movimento, etc.; aquelas determinações fazem apenas parte da
3 HEGEL; PLUTARCO, Das Sentenças dos Filósofos, I, 3.; 1973 p. 58.
4 HEGEL; 1973 p. 58.
5 NIETZSCHE; Trad. Rubens Rodrigues Torres Filho; 1973, p. 16.
6 HEGEL; Trad. Ernildo Stein; 1973 p. 74-75.
4
representação sensível. O princípio é: só é o um, só é o ser. O um é, aqui o produto
imediato do puro pensamento; em sua imediaticidade é o ser. (Idem)
Em Xenófanes devemos fazer uma importante observação; dizem que foi mestre de
Parmênides, e alguns atestam que ele é o fundador da Escola Eleata; quanto a isto Santos afirma que
tardias opiniões fizeram supor tal fato, o que é pouco provável, pois o próprio Xenófanes se diz
andarilho, ou seja, sem morada fixa (2011 p. 61).
Desta forma citamos Simplício, o qual faz um apontamento importante citando Teofrasto,
(1) É necessário, pois, que o princípio seja ou um só ou não um só, o que é o mesmo
que dizer muitos: e se é um só, ou é imóvel ou móvel; e se é imóvel, ou é ilimitado,
como parece afirmar Melisso de Samos, ou limitado como afirma Parmênides de Eléia,
filho de Pireto, não falando estes de um elemento físico, mas do ser em sua essência.
(2) Teofrasto afirma que Xenófanes de Colofão, o mestre de Parmênides, supõe único
o princípio ou único o ser e o todo (e nem é limitado nem ilimitado, nem móvel nem
estático), reconhecendo que sua fama provém mais de outro tipo de estudo do que da
investigação sobre a natureza.7
Santos esclarece este impasse e diz que,
Essa tese que veio até nós, também intermediada por Aristóteles apóia-se num passo de
Platão contido no Sofista que, se comparada com outra afirmação sua e a expressão – “e até
antes”, percebe-se, não se trata, efetivamente, de um juízo histórico (nesse particular ele
não se comporta como um historiador), mas tão somente de constatar que um e outro,
Xenófanes e Parmênides, filiam-se à mesma orientação teórico-filosófica (“o grupo”) que
reduz toda a realidade ao UNO (deus-universo, uno e imperecível) e ao Ser (uno e
imutável), respectivamente, mas os concebem (o Uno e o Ser) de maneiras totalmente
diferentes.8
Na perspectiva de Santos, podemos deduzir que há um paralelo entre o pensamento de
Xenófanes e o pensamento dos eleatas, que está no que subjaz à questão do ser, a questão
ontológica, este termo que ainda não podemos aplicar com certeza, mas que vem sendo preparado
para desvencilhar-se da forma cosmológica de pensar e penetrar na ontologia de fato, o que se dará
de forma ainda não definitiva, mas de forma mais contundente em Heráclito e posteriormente e de
forma mais concreta em Parmênides (c. 530-460 a.C.). Heráclito seria a ponte para esta transição
da Cosmologia para a Ontologia e Parmênides o consolidador de tal hipótese, um discurso
ontológico.
Hegel faz uma importante observação em relação ao pensamento de Heráclito (c. 540-470
a.C.) e diz que “ele é a plenitude da consciência até ele - uma consumação da ideia na totalidade
que é o início da Filosofia ou expressa a essência da ideia, o infinito, aquilo que é” (1973, p. 98);
pois Heráclito concebe o absoluto, segundo Hegel como processo, a própria dialética e neste sentido
7 SIMPLÍCIO, Física, 22, 22 ss. (DK 21 A 31); Trad. Wilson Régis in 1973, p. 67.
8 SANTOS, 2011 P. 61
5
a compreensão que se tem nesta forma de pensamento a própria dialética é o princípio, isto em
primeiro lugar, em segundo, o devir. Neste sentido Hegel aponta que “nele encontra-se, portanto,
pela primeira vez, a ideia filosófica em sua forma especulativa”, sendo o pensamento de Parmênides
de entendimento abstrato (idem); esta posição de Hegel nos leva a crer que o pensamento de
Heráclito, que pese o contexto cosmológico, já tenha embutido em si algo de ser, de ontológico,
como dito acima, “aquilo que é”, estando esta essência na mudança, o ser de Heráclito engloba o
não ser e o verdadeiro está na dialética dos opostos onde esta unidade se dá, o que difere dos eleatas
para os quais somente o “ser é”; Hegel traduz da seguinte forma “o absoluto é a unidade do ser e do
não-ser”; “Panta rei”, tudo flui, expressa bem esta ideia, (idem). Hegel aponta para uma colocação
de Aristóteles o qual diz que Heráclito
afirma que é apenas um o que permanece; disto todo o resto é formado, modificado,
transformado; que todo o resto fora deste um flui, nada se demora; isto é, o verdadeiro é o
devir, não o ser – a determinação mais exata para este conteúdo universal é o devir.9
Em contraposição ao não ser heraclitiano, os eleatas afirmam que só o “Ser é”, é o
verdadeiro e que a verdade do Ser é o devir, ou seja, Ser é o primeiro pensamento enquanto
imediato (1973, p. 99), observamos que Hegel ao tecer sua análise do pensamento heraclitiano, faz
breves inserções comparativas aos eleatas caracterizando uma dialética o que nos chama a atenção é
justamente esta colocação feita por Hegel de que para os eleatas o Ser é o verdadeiro e que a
verdade do Ser é o devir, ou seja, o Ser eleata abarca o Ser heraclitiano, o devir. Diz Hegel, “é um
grande pensamento passar do ser para o devir; é ainda abstrato, mas ao mesmo tempo, também é o
primeiro concreto, a primeira unidade de determinações opostas” (idem). Entendemos desta forma
que esta transição se concretiza com esta posição e interpretação de Hegel, o que podemos
corroborar citando Thomson que ao fazer referência ao “fogo” – elemento cosmológico - que
assume papel primordial como elemento transformador no pensamento de Heráclito diz,
é simbolizada como exatidão pelo elemento cujo movimento continuo é manifesto e cujo
contato transforma tudo. Mas não é mais que um símbolo. A realidade que ele envolve é
uma abstração. Assim, em Heráclito, a substância primordial da cosmologia milesiana
perde todo o valor concreto para se tornar numa ideia abstrata. (Thomson, 1974b, p. 136-
137)10
Segundo Hegel, “Heráclito não ficou estático preso em conceitos, no puro lógico” (1973 p.
100), e para além da universalidade de seu princípio, caracterizou-a na forma real; de natureza
cosmológica, em sua forma natural; por isso, prefigura na Escola Jônica. Hegel afirma que “sobre
esta forma real de seu princípio os historiadores, contudo, não estão de acordo entre si” (idem);
9 HEGEL; Trad. Ernildo Stein; 1973 p. 99.”
10 THOMSON, 1974b, p. 136-137); in 2012 p. 47.
6
afirmam que: “a maioria que sua essência ontológica era o fogo, outros dizem como ar, e ainda que
antes o vapor que o ar; e até mesmo o tempo é citado, em Sexto, como o primeiro ser do ente”
(idem).
Esta mudança do Ser no devir que se dá no tempo é algo abstrato conforme Hegel, no tempo
não é o passado e o futuro, mas o agora e este “é”, para não ser, está logo destruído, passado, e este
não ser passa, do mesmo modo, para o ser, pois ele é (1973, p. 101); esta análise feita por Hegel é
bem esclarecedora em relação a este Ser de Heráclito, como ele é e como existe, no momento, no
tempo sempre fluindo. Concluímos que a questão metafísica e ontológica estão bem explicitas não
só por Hegel em sua análise, mas em Sexto citado por ele, cabendo agora acrescentarmos o Ser de
Parmênides e ainda uma breve apresentação de Anaxágoras, naquele o princípio da ontologia
segundo estudiosos, e neste o “nous” (espírito) como mais um elemento no jargão ontológico.
Nietzsche afirma que em Parmênides de Eléia (c. 530-460 a.C.) “preludia-se o tema da
ontologia”11; Santos firma que “talvez, numa nítida passagem da cosmologia à ontologia,
colocando, decisivamente, a investigação filosófica rumo à especulação metafísica” (2011, p. 64),
para Parmênides só existe uma realidade, o Ser, e que é impossível uma multiplicidade originada
deste e ainda, que a proposta da Escola de Mileto de uma substância que tenha em si a força do
movimento é inconcebível; Parmênides só reconhecerá a Razão como norteadora ao conhecimento
verdadeiro, e de forma categórica afirma “uma coisa é ou não existe”. Santos diz, “Parmênides é
considerado pela maioria dos historiadores o primeiro grande metafísico da história” (2011, p. 65).
Enumeramos características do Ser de Parmênides elencadas por Santos: a) “Ser e pensar são a
mesma coisa”; b) “O ser é a única substância, o pleno, o absoluto, imutável, uno e necessário”; c)
“A única verdade, que só é alcançável pela razão, é o Ser” (2011, p. 66); e ainda, “ele tem uma
visão monolítica do Ser, uno, total e irrepartível” (idem, p. 70), o todo (o Ser) é uno, incriado,
imutável e imperecível (idem, p. 71); concluindo, citamos o Fragmento 3 de Parmênides: “Pensar e
ser são uma só e a mesma coisa.” (Idem, p. 68).
Tratamos agora de maneira sucinta o pensamento de Anaxágoras de Clazômenas (c. 500-
428 a.C.), somente expor o que diz Platão e Aristóteles e um breve comentário de Hegel,
procurando dar uma objetividade conclusiva no sentido de endossar nosso trabalho no que tange a
ontologia intrínseca ao pensamento cosmológico, pois este filósofo traz junto a proposta das
homeomerias, a questão do nous, ou seja, espírito,
Mas Anaxágoras diz que o justo é espírito, pois este, sendo independente e com nada se
misturando, coordena as coisas percorrendo-as todas. – Aristóteles, Da Alma, I, 2. 405 a
15: Como princípio, ele põe o espírito acima de todas as coisas; pois é o único dos seres,
11 NIETZSCHE; Trad. Carlos A. R. de Moura; 1973 p. 156
7
diz ele, que é simples, puro e sem mistura. E atribui ao mesmo princípio ambas as funções:
o conhecer e o mover-se, afirmando que o espírito movimenta tudo.12
Hegel apontando para Aristóteles diz que,
Sobre a determinação mais precisa do Nous em Anaxágoras, diz Aristóteles que ele não
distingue sempre de maneira determinada alma e Nous. Que muitas vezes ele fala
efetivamente do Nous como causa do belo e do justo [...] – de que algo se apresenta como
belo e justo; mas que o Nous não é para ele muitas vezes mais que a alma. Enquanto ele ou
outros dizem que o Nous move tudo, a alma seria aquilo que apenas move. Além disto,
Aristóteles cita a determinação de Anaxágoras: que o Nous é puro, simples, sem
sofrimento, isto é, sem ser determinado exteriormente por outra coisa, “não misturado e não
em comunidade com qualquer outro”.13
Dessa forma pretendemos pesquisar fazendo uma análise literária do discurso Pré-Socrático,
sob uma ótica hegeliana, verificando o viés metafísico e ontológico intrínseco à cosmologia, ao
pensamento Pré-Socrático e verificamos que é factível em Hegel e Nietzsche, pois estes comentam
os Pré-Socráticos e fazem suas análises sobre os pensamentos dos filósofos daquele período,
especialmente no que tange a questões tais como: substância, princípio, origem, natureza, alma,
espírito, ser, e Deus, ou seja, no campo da metafísica e ontologia, além de autores e comentadores
deste período tendo como referência bibliográfica inicial, Os Pré-Socráticos da Editora Abril
Cultural, 1973, editor Victor Civita, que tem como base de pesquisa Hermann Diels grande
pesquisador da Filosofia Antiga (Santos, 2011, p. 19) e Walther Kranz, filósofo e historiador
alemão.
Avançar na investigação em busca de uma afirmação acadêmica e concisa no campo da
pesquisa e trabalhos científicos de que existe sim um discurso metafísico e ontológico junto ao
estudo da cosmologia, onde o imanente e o transcendente possam ser delineados de forma clara e
bem fundamentados, posto que se naquela época o sentido das palavras como metafísica, ontologia,
ser, Deus, alma e espírito, por exemplo, tivessem outros significados então não seria possível que
filósofos contemporâneos fizessem analises, comentários e discutissem tais temas com o
entendimento que temos destas palavras na contemporaneidade. A título de exemplo, Nietzsche
aponta o prelúdio do tema da ontologia em Parmênides (1973, p. 156); de Heráclito ele diz que este
não separava mais o mundo físico de um metafísico (idem, p. 109); Hegel cita opiniões de
pensadores antigos sobre Heráclito os quais fazem referência ao fogo como “essência ontológica”
proposta por ele; escrevendo sobre Parmênides, Santos afirma que o pensamento deste filósofo pode
ser considerado “talvez, nítida passagem da cosmologia à ontologia” e ainda, “colocando,
decisivamente a investigação filosófica rumo à especulação metafísica” (2011, p. 64); Thomson
sustenta que “a substância primordial da cosmologia milesiana perde todo o valor concreto para se
12 PLATÃO, Crátilo, 413 c (DK 59 A 55); 1973, p. 266.
13 HEGEL; Trad. Ernildo Stein; 1973 p. 175.
8
tornar numa ideia abstrata” (2012, p. 47); ou seja, diante do exposto podemos desenvolver um
trabalho de pesquisa voltado à metafísica, à ontologia, Filosofia Antiga em uma ótica moderna.
Observo que para ter mais objetividade neste pré-projeto, reduzi a bibliografia ao necessário
para a execução do mesmo, e que existem outras fontes bibliográficas que poderão ser
acrescentadas à pesquisa quando necessárias e seguindo a orientação em caso de aceitação desta
proposta.
3. OBJETIVOS
Geral
Investigar as formas de pensamento dos filósofos antigos, em um campo cosmológico, na
natureza - Physis -, analisando o movimento de uma forma de pensar objetiva em direção a uma
subjetividade, ou seja, da cosmologia à ontologia; verificando os avanços em cada filósofo que
possamos concluir ou assinalar as questões metafísicas e ontológicas dentro de seus pressupostos
cosmológicos, sendo nossa pretensão sustentada pelas críticas de Hegel em seus comentários
àqueles pensadores e tais pressupostos encontramos na obra de Diels e Kranz, Os Pré-Socráticos” –
1973, e outras fontes que posteriormente podem vir a integrar não à este pré-projeto, mas ao
projeto de pesquisa em si e conforme orientação.
Específicos
1. Analisar os pressupostos de cada filósofo, procurando entender os movimentos em
direção a tais pressupostos, buscando o caráter metafísico e ontológico de cada
proposição.
2. Estudar as consequências de tais pressupostos.
3. Entender a relação destes pressupostos, em relação aos anteriores.
4. Analisar a transição de uma forma de pensar à outra; e verificar de fato uma ontologia
dentro do pensamento cosmológico; ou a “ontologia da substância”.
5. E por fim, apontar o que daquelas formas de pensamentos a posteridade herdou.
4. FONTES E METODOLOGIA
As fontes utilizadas serão obras de autores que trabalham a Filosofia Antiga, mais especificamente
os Pré-Socráticos e Metafísica; artigos acadêmicos voltados para a mesma linha de investigação, bem como
revistas e material didático, além de filósofos e comentadores que analisam o pensamento antigo, como por
exemplo: Hegel, Nietzsche, Heidegger, Beaufret, Axelos, Burnet, filósofos estes comentadores encontrados
na obra Pré-Socráticos (1973). Além de Diels e Kranz, pesquisadores das doxografias e seus autores, como
9
Teofrasto, Simplício, Diógenes, Hipólito, dentre outros e ainda Aristóteles e Platão que fazem suas análises e
opinam sobre o pensamento predecessor à Filosofia Clássica, e ainda, Thomson, Marcondes, Reale e Santos;
as referências bibliográficas aqui apresentadas são restritas à elaboração deste pré-projeto.
Porém, Hegel será o norteador desta pesquisa, autor do qual e com base em seus pressupostos que
faremos está releitura em uma análise literária conforme explicitado no título deste pré-projeto; ou seja,
nosso método será fundamentado em pesquisa bibliográfica de um período específico da Filosofia Antiga,
porém atualizado na Filosofia Moderna no pensamento de Hegel.
5. CRONOGRAMA DE EXECUÇÃO
Ano | 2022 | 2023 | ||||||
Trimestre | 1° | 2° | 3° | 4° | 1° | 2° | 3° | 4° |
1- Pesquisa bibliográfica | X | X | X | |||||
2- Correções e adaptações no projeto | X | X | X | |||||
3- Coleta e análises de dados | X | X | ||||||
4- Metodologia | X | X | ||||||
5- Redação/Elaboração do trabalho | X | X | X | |||||
6- Revisão gramatical e ortográfica | X | |||||||
7- Relatório Final | X | X |
- OS PRÉ-SOCRÁTICOS; Abril S.A.; Cultural e Industrial; São Paulo; 1973.
- SANTOS, Mário José dos. Os Pré-Socráticos. Editora UFJF; Juiz de Fora – MG; Ed. 2011.
- MARCONDES, Danilo. Iniciação à história da filosofia: dos pré-socráticos a
Wittgenstein. - 13.ed. – Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2010.
- ANDERY, Maria Amália Pie Abib... et al.; Para compreender a ciência: uma perspectiva
histórica. 16ª ed. Rio de Janeiro: Garamond, 2012.
Juiz de Fora - MG
2021